Viver
Amadurecemos
muito mais quando nos relacionamos com indivíduos que ativam os
diferentes “eus” que estão em nós. Isso acontece nas relações
que são desprovidas de julgamento, de censura, de vergonha, de
cobrança – são as relações de amizade.
Não há dúvida de que o lúdico e a inocência dos nossos atos nos
dão a confiança necessária para desejar que esses estranhos em nós
continuem a ser evocados. Nas relações dessa natureza, podemos até
afirmar que praticamente existe uma “disputa” de quem pode doar
mais, de quem pode produzir mais.
A qualidade da relação não poderia ser avaliada por tudo aquilo
que nos desperta, que nos leva à ação e à nossa
despersonalização?... Nessas experiências sentimos que somos ora
mais jovens, ora mais velhos, e que também somos pais, filhos,
homens, mulheres, animais. E, além disso, aprendemos a viver num
ritmo em que o tempo cronológico deixa de ser a referência do nosso
percurso espiritual – assim conquistamos o tempo dos afetos... Isso
tudo é exatamente o oposto das relações tristes, que reproduzem o
ódio e o ciúme, que envolvem julgamento, censura, vergonha, medo e,
em suma, constrangimento
da nossa natureza.
As relações tristes não cessam de reprimir os nossos “eus” ao
reforçar a identidade, a função social, o papel familiar, o lugar
correto no mundo. Tristeza e falta são apenas consequências de uma
vida que não aprendeu a rir, que leva demasiado a sério os
“problemas-do-cotidiano-que-atormentam-o-seu-euzinho”... Mas
quando beijamos os dedos de uma de nossas próprias mãos para, em
seguida, encostá-los carinhosamente sobre o peito de alguém
querido, talvez muita
coisa pode
ser mudada... Viver é, sobretudo, tocar e ser tocado, doar e
receber...
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abraços