Erudição
Os
criadores não estão preocupados em “saber” mais que alguém.
Sem fazer rodeios, eles fazem uso da erudição como meio
para invenções: “O que isso serve para a minha obra?”,
assim perguntam eles. Conservam o olhar estrangeiro, veem as coisas
de outro jeito, dão valor às coisas que a maioria despreza, possuem
uma inteligência que não tem nada a ver com a prática – uma
inteligência do seu próprio tempo para amadurecerem ideias, atos,
metamorfoses. Afirmam os sentidos do corpo, desejam o maior contato
possível com obras que alimentam o seu instinto criador, porque
sabem que o conhecimento não está pronto para ser acessado,
mas está associado à música, à literatura, ao mar, às montanhas,
às conversas. Os criadores têm a consciência de que a natureza é,
também em nós, um continuum intensivo – eis o
conhecimento que está inseparável de uma emoção que exprime
aquilo que não morre, de um supremo pensamento que está acompanhado
de uma raríssima alegria e de uma perfeita confiança em si mesmo.
Trata-se de um acontecimento que não faz barulho, que acontece nos
lugares mais improváveis, que ninguém ao redor tem a menor noção
da louca ideia que acabou de brotar ali: sem ingerir algum
alucinógeno, os criadores podem alucinar até durante uma simples
caminhada... Há uma verdade maravilhosa nesse pensamento, que a
razão nem chega perto. Toda erudição de todos os tempos é incapaz
de dar conta da experiência que faz com que o criador encare a
existência como uma criança que brinca em um jardim.
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Aforismo publicado no livro Singularidades Criadoras (2014), de Amauri Ferreira.
Comentários
"Não temos que entrar em fila nem pegar bilhete para ser agraciados pela Alegria. Ela nos acontece quase sempre pelas costas,zum! pá! e pronto, algo se passou. Existe memória para as sensações? Há História e Progresso e Ordem para aqueles que cultivam seu próprio Corpo Vibrátil? Meu corpo e minha alma NÃO são rentáveis, NÃO compro NÃO vendo NÃO troco. Só roubo, ou então sou roubado. NO PROBLEM!, pois não sou o proprietário de mim mesmo, apenas empresto-me corajosamente ao pulso da vida e ela assim salta em mim. E me faz passar. Mudar. Gosto de ir e estar onde não se espera, onde se fabricam as perguntas, onde surgem os sentidos, onde o eu se bifurca em MIM e no OUTRO, onde o comum por fim brilha como num fogo eterno!
Gosto de pensar que ela, a alegria, é também uma prática... (risos)