Esgotamento
Quando nos aparece o esgotamento, devemos investigar o corpo, ou melhor, as relações do nosso corpo com o ambiente. É inevitável que o corpo reduzido ao hábito reproduza a sensação de esgotamento, de enfado. Por isso é necessário quebrarmos os hábitos e estabelecermos outros hábitos. Fazer morrer no tempo certo para renascer com outros hábitos – extraímos essa sabedoria da crise. Sem a crise seria intolerável existir, porque não sentiríamos a necessidade de mudar – e a vida, toda ela, é mudança... Não acreditamos que exista “vocação”, mas sim apropriação para fazer a vida passar: ninguém nasce isso ou aquilo, com etiquetas de fábrica, mas torna-se isso ou aquilo por poder apropriar-se daquilo que encontra durante seu percurso existencial. A história da filosofia sob sua vontade para gerar o novo: assim entendemos quem se torna filósofo. Mas podemos dizer do mesmo modo a respeito da história da ciência, do cinema, da pintura, da fotografia, da literatura, da dança... tudo sob a vontade de quem é comandado pelo amor. O critério é: tal combinação de imagens é suficiente para passar algo diferente na humanidade? Vai conseguir tocar alguém? Ou melhor: o próprio autor já é tocado por ela? Ele quebra seus hábitos com ela? Ou melhor: ela já é resultado da quebra dos seus hábitos? E ainda: tal combinação de imagens exprime a superação de um esgotamento e o retorno à saúde? O pensamento é necessariamente criador e subversivo, mas para que isso se efetue é necessário que os sentidos do corpo sejam tocados, não pelos estímulos que o tornaram embotados, mas por outros que nem sabemos que existem – alguns deles, inclusive, temos conhecimento através da amizade, pois, como já dissemos em outro lugar, amigos são “aqueles que nos abrem portas surpreendentes”.
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