A revelação de Estamira e a destruição da humanidade
Artigo de Amauri Ferreira, escrito em 2007
1. O RISCO DA INTERPRETAÇÃO
É comum haver uma desvalorização do que não é compreendido por acreditar-se que palavras supostamente “desconectadas” são meros efeitos de um indivíduo perturbado. É quando a vida normalizada – que se tornou normalizada – julga, mediante um restrito campo de visão dos seus valores morais, que o que não é compreendido não pode ter, por isso mesmo, alguma importância. Assim, a vida normalizada constata que o que escapa à interpretação só pode ser algo inútil: “o que eu ganharei com isso?”, pergunta-se o pobre indivíduo massificado. Agindo assim, a massa segue com as suas crenças que tornam os fenômenos do mundo “inteligíveis”. As explicações oferecidas pelas mais diversas superstições dão um impulso rumo ao tão sonhado controle da realidade. Mas o que é considerado inteligível é exatamente tudo o que fornece uma aparência de que as coisas estão bem “ordenadas” por meio de uma fé religiosa ou de uma racionalidade humana. Essa “inteligibilidade” faz com que os verdadeiros problemas nem sequer possam ser colocados, já que estes estão muito distantes da visão automatizada da massa – de tal forma que ela nem sequer pode imaginar que esses problemas existem. Refém de uma exaustiva interpretação dos signos, a massa imagina que pode encontrar um sentido “verdadeiro” para os acontecimentos do mundo, o que faz com que ela se feche cada vez mais a outros modos de experimentar ou de viver sem pretender mistificar a natureza. Um conhecimento prático, útil à vida que degenera, obstrui o engendramento de questões e problematizações que certamente vão perturbar um determinado modo de viver: é essa a razão para que o discurso do esquizofrênico seja colocado à margem do discurso oficial. Não interessa ao poder um discurso que ponha abaixo o império do significante: os delírios do esquizofrênico são suficientemente potentes para se sustentarem por si mesmos, e é inevitável que eles possuam uma grande força para produzir em nós os mais estranhos afetos.
Já que Estamira tem algo de importante a comunicar ou, como ela mesma diz, a revelar, parece-nos fundamental fazer uma breve análise do seu discurso. Mas não pretendemos utilizá-lo para encontrar supostas verdades que estariam escondidas por detrás dele – não queremos cair no risco de uma interpretação que busca decifrar enigmas e impor aos leitores uma verdade que seria a mais “verdadeira” de todas. Utilizamos o discurso de Estamira como produção desejante que nos afeta ao produzir algo em nós mesmos e que nos leva à ação. Queremos levar adiante a revelação de Estamira ao dizermos coisas que, talvez, ela não tenha sequer sonhado. Servimo-nos do presente que ela nos deu como um estímulo para realizarmos um esboço de crítica aos valores dominantes do mundo moderno.
2. A NATUREZA DA REVELAÇÃO
Estamira nos quer fazer uma revelação – e ela tem uma necessidade vital de efetivar isso. Revelar é uma questão de saúde, pois assim ela não permite que surja uma fissura no seu ser (“E eu passo mal se eu não revelar. O meu sentido, o meu sentimento... passa mal se eu não revelar” 1). Logo na sua primeira fala no filme, a certeza que Estamira tem de saber a verdade já nos dá uma amostra da contundência de um discurso que não poupa ninguém: “A minha missão, além de eu ser Estamira, é revelar a verdade, somente a verdade. Seja mentira, seja capturar a mentira e tacar na cara, ou então ensinar a mostrar o que eles não sabem...” 2
Mas, ao contrário de um profeta, Estamira não pretende revelar verdades que somente seriam validadas por meio de sinais divinos, sinais que poderiam anunciar inevitáveis catástrofes ou, então, sinais que anunciariam um intenso período de prosperidade para um determinado povo. Ela não se confunde com fundadores de religiões por um motivo muito simples: o que move as revelações dos fundadores de religiões é o desejo de ter o poder, de formar rebanhos obedientes. Já o que move a revelação de Estamira – além de ser uma questão de vida, de sentir-se viva ao doar algo valioso à humanidade – é colocar todos os valores ao exercício da crítica. Sentimos que há uma necessidade nietzschiana da transvaloração dos valores na sua revelação. Ao contrário de um profeta que funda o seu reino tendo como base a reprodução de valores que são necessários para garantir o investimento das massas no seu poder, Estamira tem a ousadia de não conservar nenhum valor moral. Diante da câmera de Marcos Prado, Estamira encontra o momento oportuno para que a revelação se espalhe pelo mundo. Ela nos diz que revela desde 1986, mas para quem ela revelou durante o tempo que antecedeu o encontro com o diretor? Ao observarmos, no filme, o que as pessoas que rodeiam Estamira dizem – amigos do lixão e familiares –, constatamos que a revelação, durante anos, não encontrou, talvez, um único receptor capaz de lhe dar a atenção merecida.
A natureza da revelação de Estamira é, para nós, um autêntico presente, e não um meio em que ela pudesse utilizar-se para obter algum poder que subjuga os outros. Por não se alimentar de superstições, é impossível que a revelação de Estamira tenha a função de formar rebanhos. Ora, todo poder simula uma piedade para com quem sofre. Assim, o sofredor acredita que poderá obter as vantagens que o poder tanto lhe promete. Não há dúvida de que o poder usa o disfarce da generosidade para exercer um domínio sobre a vida enfraquecida. Mas o caso de Estamira é de outra natureza, pois como alguém que imagina em fundar um poder poderia dizer que é ruim e não perversa? Ruim na cobrança e não por vingança: “Mas eu sou ruim. Perversa eu não sou, mas ruim eu sou. [...] Na cobrança, na cobrança.” 3 E isso nos parece ser notável: ela não quer o poder, ela detesta o poder, ela quer acabar com o poder. Ser ruim, na cobrança, é uma maneira de estimular a vida domesticada, subordinada, resignada, a abandonar as superstições que a mantêm doente.
3. O ALVO DA REVELAÇÃO
“A minha missão é não engolir. É amostrar, é guiar. Pois as coisa tá tudo errada. Não é desse jeito.” 4 Faz parte da missão de Estamira não permitir que alguém a impeça de se expressar. A sua revelação tem, portanto, uma missão. Estamira deseja que a revelação, ao vir à tona, tenha a missão de guiar os homens. Sentimos que é importante que o problema da revelação seja colocado: assim como um profeta, Estamira teria alguma pretensão de guiar um povo perdido, que a transformasse em uma salvadora? Haveria “seguidores de Estamira”? É evidente que ela não ocupa essa posição, pois ela mesma diz: “[...] eu não tô orientando ninguém, nem quero orientar ninguém. Eu tô alertando...” 5A revelação é um alerta que nos faz dizer: vejam, as coisas estão erradas, elas não podem ser desse jeito. A fome, a miséria, a desigualdade, a ganância, a inveja, isso tudo não está ordenado. A revelação mostra-nos a importância das questões, de fato, problemáticas, de maneira que o homem atente-se para as concepções de vida até então negadas ou ignoradas – esta é a missão da sua revelação, ao nos dizer que há uma face da vida que é desconhecida, obscurecida e amaldiçoada pelos homens. A revelação, portanto, mostra-se como uma função de corrigir o olhar dos homens e não para fazê-los girar no mesmo lugar ao fornecê-los uma nova superstição.
A revelação de Estamira não deixa de ser uma denúncia extremamente agressiva. É fundamental que a revelação nos aponte para os problemas que nos façam ver onde é que está o erro e qual é o tipo de vida que segue investindo teimosamente no erro. Portanto, é inevitável que o revelador seja um cagüete: “Estamira, cagüete também, principal, natural, nacional, regional, geral. É geral, mas também cagüete, além de Estamira. O cagüete é o comunicador de toda coisa, é o resumo. O revelador, comunicador de todas as coisas.” 6 Não pretendemos atribuir um sentido pejorativo ao cagüete, como se ele fosse um justiceiro ou um indivíduo qualquer que se sentiu lesado e que, por isso, deseja realizar uma vingança ao denunciar o culpado por sua desgraça. Não encontramos ressentimento no discurso de Estamira (exceto em outro trecho que iremos analisar adiante, a respeito da prática psiquiátrica). O que é importante para o cagüete é apontar o modo de vida dominante na sociedade (portanto, o cagüete não tem como objetivo atingir pessoas), ou seja, o tipo de vida que faz com que as coisas estejam tão erradas. Isso faz Estamira esbravejar e sentir-se profundamente horrorizada. E ela não suporta isso. São esses os momentos em que ela se mostra mais enfurecida.
Mas, então, o que é que Estamira vê de tão errado na sociedade que a deixa tão enfurecida? Ela percebe que há algo de profundamente nefasto que domina os homens – mas não será o homem que se permitiu ser dominado por essa coisa tão nefasta? E não será que é o lado ruim da terra que tornou o homem um animal pior que os “quadrúpulos”? Estamira nos diz que esse lado ruim é o lado dominado pelo trocadilo: “Os homem tá tudo dominado pelo lado ruim, pelo lado do trocadilo, pelo baixo nível, pela ganância, pela ambição, pela inveja. Não é pra ser isso, não foi ordenado isso.” 7
Podemos dizer que o aparecimento do trocadilo somente foi possível devido à troca da ordem das coisas, o que gerou esse horrível fruto podre de uma terra que se tornou suja e inválida. A terra passa a ser um mundo ao contrário, dominada por seres que espalham, entre eles mesmos, valores nocivos (e invertidos) que produzem “espertos ao contrário”: “Eu transbordei de raiva [...] com tanta perversidade, com tanto trocadilo. As doutrina errada, trocada, ridicularizou os homem, ridicularizou mesmo, é isso mesmo, e vai me pagar.” 8
“A culpa é do hipócrita, mentiroso, esperto ao contrário, [...] que joga a pedra e esconde a mão!” 9 Entendemos que o esperto ao contrário é um atributo do trocadilo, pois o esperto ao contrário é movido por um desejo de obter as supostas vantagens que um mundo "trocalizado" fornece, ou seja, ele é, essencialmente, um trocadilo. O resultado disso é que o homem foi totalmente ridicularizado pela terra suja. Já como trocadilo, o homem imagina que age com astúcia ao acreditar nas mais variadas superstições, sejam religiosas ou científicas. Mas essa aparência de esperteza é desnudada pela ridicularização que o homem aceitou submeter-se: inventar um Deus para jurar obediência é algo tão ridículo que nem os porcos – ou qualquer outro “quadrúpulo” – chegaram a ter tamanha insanidade. Para Estamira, constatar essa decadência do homem causa-lhe tristeza e vergonha: “Que tristeza, que vergonha, hein?” 10
O trocadilo é um tipo de vida doente que espalha o seu veneno para os outros homens, e não se dá por satisfeito enquanto não conseguir ampliar o poder do seu contágio. Dessa forma, os homens são seduzidos e golpeados ao morderem a isca dos valores “trocalizados”. A mentira, a ganância, a inveja, passam a tomar conta da sociedade: o trocadilo torna os homens enfraquecidos e completamente cegos, atirados ao abismo da ignorância: “O trocadilo [...] sabe o que ele fez? Mentir pros homem, seduzir os homem, cegar os homem [...] e depois jogar no abismo. [...] Por isso que eu tô na carne. Pra... sabe pra quê? Desmascarar ele com a quadrilha dele todinha. E derrubo!” 11
4. A QUADRILHA ECLESIÁSTICA E A QUADRILHA SOCIAL
Sozinho, o trocadilo não conseguiria levar ao fim o seu terrível contágio; por isso a formação de uma quadrilha passa a ter uma função indispensável. Todo indivíduo que é cúmplice de um poder colabora para a formação de quadrilhas. Mas é evidente que esse indivíduo que fomenta a multiplicação de quadrilhas não se vê como cúmplice e funcionário – ou colaborador – de grupos tão perniciosos; mas, pelo contrário, ele se vê, na maioria das vezes, como vítima. O esperto ao contrário, ao ser interrogado, apenas diz: “Não, senhor, não sou eu o culpado. Apenas cumpri as ordens dos meus chefes...”.
Podemos dizer que existem dois tipos de quadrilha: a quadrilha eclesiástica e a quadrilha social. Todos aqueles que compõem o poder eclesiástico, que falam de Deus e do Diabo para alimentar o medo e a esperança dos seus fiéis, são trocadilos que precisam espalhar o veneno do ressentimento e da má consciência para estabelecer um poder sobre a vida impotente. Mas quem sustenta esse tipo de quadrilha são os clientes das igrejas, ou seja, indivíduos que foram contaminados e seduzidos pela quadrilha eclesiástica, tornando-se também espertos ao contrário. Desta forma, os seguidores das igrejas passam a ter um comportamento miserável. Submetidos ao poder sacerdotal, acreditam que o “louco” está possuído por uma entidade demoníaca. Estamira encontra, na própria família, os efeitos da contaminação promovida pela quadrilha eclesiástica. O desejo do filho em interná-la em um hospital psiquiátrico é exemplar: “E aquele meu filho contaminado pela terra suja, pelo baixo nível, pelo insignificante, parecendo um palhaço lá, lá dentro do hospital! A coisa mais ridícula!” 12
Ora, o que faz com que alguém acredite cegamente nas mentiras que a quadrilha eclesiástica lhe diz? A busca pela salvação da alma, por uma vida com riquezas, a cura de doenças, é tudo o que o sofredor deseja. Mas para conseguir isso é preciso obedecer e seguir rigorosamente as leis divinas. Qualquer interpretação que a quadrilha fornece para os seus tormentos é válida: Deus é a resposta para tudo. Portanto, há todo um interesse da vida impotente em abastecer a quadrilha eclesiástica – é ela quem a financia.
Deus foi o grande negócio que o trocadilo fabricou para dominar as massas (“Quem fez Deus foi os homens” 13). De produto do trocadilo, Deus passa a ser a condição da reprodução dos trocadilos, isto é, como fonte principal para que o contágio da quadrilha eclesiástica tome proporções mundiais. E o poder desse Deus como grande negócio mundial é desafiado por Estamira quando ela diz que até os mais fiéis não conseguem resolver os “males” da existência: “Que Deus é esse? Que Jesus é esse que só fala em guerra e não sei o quê? Não é ele que é o próprio trocadilo? Só pra otário, pra esperto ao contrário, bobado, abestalhado! Quem já teve medo de dizer a verdade, largou de morrer? [...] Quem fez o que ele mandou, o que o da quadrilha dele manda, largou de morrer? Largou de passar fome, largou de miséria? 14
Os copiadores também pertencem a uma quadrilha. Chamamos essa quadrilha de quadrilha social – são as instituições que constituem as sociedades modernas. Trata-se de uma quadrilha muito maior, muito mais sutil, muito mais sedutora, porque é uma quadrilha “democrática”. A forma democrática da quadrilha tornou-a perigosamente difusa, invadindo os poros da sociedade. Nada deve escapar ao seu veneno. A sedução do trocadilo ampliou-se como nunca. E para ser seduzido e contaminado por essa quadrilha é necessário que os homens aprendam a copiar mentiras: “Vocês não aprendem na escola, vocês copiam. Vocês aprendem é com as ocorrências. Eu tenho neto com dois anos que já sabe disso. Tem dois anos e ainda não foi na escola copiar hipocrisias e mentiras charlatais!” 15 Aprender a ler e a escrever é o princípio básico para a formação de copiadores competentes e racionais, tornando-se extremamente úteis aos interesses dessa nova espécie de quadrilha. Fica difícil estabelecer um critério para encontrar qual dos dois tipos de quadrilha (a eclesiástica e a social) é o menos nocivo, pois, essencialmente, elas possuem o mesmo elemento degradado e pérfido que as constituem – o trocadilo. Mas parece-nos que a quadrilha social possui uma característica fundamental que esconde o seu real perigo, que a faz tornar distinta – apenas num certo aspecto – da quadrilha eclesiástica: promete à vida impotente que, se ela for uma boa copiadora, irá pertencer à quadrilha. A isto chamam de progresso na carreira profissional ou ascensão social. Basta ser alguém competente na arte de decorar saberes que já está pronto para se tornar mais um membro da quadrilha. Como nós não queremos que as coisas fiquem confusas neste ponto tão importante da revelação, dizemos o seguinte: as instituições modernas não se parecem com quadrilhas, elas são realmente quadrilhas... São enormes quadrilhas formadas por pessoas que aprenderam a ler e a escrever, mas não sabem entender o que as levaram a ter um desejo de pertencer à quadrilha. Mas isso não quer dizer que elas sejam vítimas ou inocentes, mas, pelo contrário, elas são, na realidade, espertos ao contrário na medida em que, no auge do seu cinismo, “jogam a pedra e escondem a mão”: basta dar a elas um poderzinho qualquer que as quadrilhas produzirão mais um fascista... Por isso, diz Estamira: “Os inocentes. Não tem mais inocente. Não tem. Tem esperto ao contrário.”16
Nas escolas, elas apenas aprenderam a copiar em detrimento do pensamento – a consequência disso é muito grave, pois não aprenderam “com as ocorrências”, isto é, com a experiência ou com o que ocorre com elas. Por isso estão destinadas a copiar “bobajaiadas”, virando “abestaiados” e “abobados”: “[...] essas bobajaiadas, tudo abestaiado, abobado. Sabe ler, sabe escrever, não sabe o que é. Adianta alguma coisa? Adianta você saber ler e escrever e não saber o quê? Adianta?” 17 Nesse sentido, o ensino nas sociedades modernas (as escolas são quadrilhas) tem a tarefa de formar o material que irá servir às demais quadrilhas sociais. Assim é estabelecida uma rede social das quadrilhas, onde uma está ligada à outra, o que justifica o nome que demos de quadrilha social. Por isso não precisamos nos contentar a dizer que somente as empresas são quadrilhas, mas as instituições públicas e muitas ONGs, por exemplo, são também quadrilhas abastecidas por gente que aprendeu nas escolas (e também na quadrilha familiar edipiana) a ser um esperto ao contrário. É o que chamam de ensino... Nas instituições, deter uma posição de poder é considerado como algo de valor, como prova de sucesso. Mas o que é valorizado é o euzinho privatizado, que se sente alegre por fazer parte de uma quadrilha (embora, é verdade, muitos deles não têm a menor ideia de que fazem parte de uma instituição criminosa).
Estamira procura auxílio para as suas perturbações em um centro de assistência psicossocial, e descobre os efeitos de um serviço prestado pela quadrilha psiquiátrica, formada por copiadores que receitam, abusivamente, medicamentos dopantes. Em um trecho arrebatador, Estamira denuncia o funcionamento dessa prática: “Aqui, ó, ó o retorno, quarenta dias, presta atenção nisso. Olha, e ainda mais eu conheço médico, [...] médico mesmo. Direito, entendeu? Ela é a copiadora. Eu sou amigo dela, eu gosto dela, eu quero bem a ela. Quero bem a todos, mas ela é a copiadora. Eles estão, sabe, fazendo o quê? Dopando, quem quer que seja, com um só remédio! Não pode... Quer saber mais do que Estamira? Presta atenção. O remédio é o seguinte: se fez bem, para. Dá um tempo! Se fez mal, vai lá, reclama, como eu fui três vezes. Na quarta vez é que eu fui atendida. Entendeu? Mas eu não quero o mal dela, não! Eles estão copiando! [...] Quem sabe sou eu, quem sabe é o cliente, fica seviciando, dopando, vadiando pra terra suja maldita, excomungada, desgraçada [...] Esses remédios são da quadrilha da armação do dopante, pra cegar os homens pra querer Deus. Deus farsário! Entendeu? Esses remédio são dopante pra querer Deus farsário, entendeu?” 18 Os copiadores da quadrilha da “armação do dopante” procuram – por intermédio de uma medicalização “seviciante” – conter de todas as formas a contundência do discurso esquizofrênico, fazendo-o aceitar, à força de drogas, as suas regras estabelecidas para toda a sociedade. São regras de um Deus falso, isto é, são regras de uma humanidade que se tornou um Deus que julga a vida pelo comportamento social das pessoas. É a moral que decide, de acordo com os seus interesses mais baixos, se alguém é doente ou saudável. O conhecimento e a autoridade científica são funções da moral estabelecida pelo trocadilo. Antes encarcerado nos terríveis hospitais psiquiátricos (como a mãe de Estamira), o “doente dos nervos” passa a ser controlado por um sistema de dopagem que o torna “desgovernado” – é isto que Estamira diz sentir-se após o uso de medicamentos que fazem a sua cabeça parecer um “copo de Sonrisal”. Prostrada, nesses momentos Estamira se sente numa impotência extrema, e é exatamente aí que a sua fala passa a ter um conteúdo ressentido contra a vida: “Como é que a vida é dura, né, gente? [...] A vida não tem dó, não. Ela é mau. Por mais que a gente peleja, que a gente quer bem, que a gente quer o bem, mais fica destraviado. [...] Desgovernada, eu tô desgovernada.” 19 É somente por meio de um sistema de dopagem que o trocadilo consegue, temporariamente, conter a força revolucionária de Estamira. Mas, de modo geral, sentimos que os indivíduos “normais” se entregam ao entorpecimento mediante a utilização das mais variadas drogas que são oferecidas pela quadrilha social, fazendo-os chafurdarem na lama da impotência, do ressentimento e da má consciência, levando-os a acreditarem que a saída para os problemas que vivem é aceitar a moral do “Deus farsário”. Apenas quem está na impotência pode desejar o poder.
5. O COMUNISMO SUPERIOR
O esperto ao contrário imagina que é um indivíduo astuto por poder usufruir as vantagens (ou os narcóticos) da quadrilha social. Em razão disso, ele não quer imaginar em levar uma vida sem os pequenos prazeres que a quadrilha lhe acostumou. Ele apenas se importa com o seu próprio sucesso no mundo “trocalizado”, mesmo que seja em detrimento dos outros. Está pouco preocupado com a degradação social e ambiental que a quadrilha, da qual ele faz parte, produz.
Vemos Estamira no lixão de Jardim Gramacho. Ela é a testemunha do último estágio dos “restos e descuidos” gerados pela quadrilha social. Alimenta-se dos descuidos alimentícios produzidos pela abundância alimentar dos espertos ao contrário. De fato, não é da natureza do esperto ao contrário cuidar das coisas do mundo, e isso traz sérios problemas à conservação do meio ambiente. Estamira diz: “Quem revelou o homem como único condicional, ensinou ele a conservar as coisas. [...] não ensinou trair, não ensinou humilhar, não ensinou tirar. Ensinou ajudar.” 20 O trocadilo é perverso porque ensina tudo isto: trair, humilhar, tirar. O seu ensinamento serve exclusivamente para que as pessoas aprendam a ter vantagens com relação aos seus concorrentes. O trocadilo ensina a incivilidade. Ele não pode ensinar as pessoas a ajudarem a si mesmas porque o poder das quadrilhas se tornaria desnecessário e, assim, seria estabelecido um comunismo que resgataria a civilidade humana, sem instituições, sem poderes. E tudo o que o trocadilo não deseja é isso: “O homem não pode ser incivilizado. Todos os homens têm que ser iguais. Têm que ser comunistas. Comunismo. Comunismo é igualdade. [...] Mas a igualdade é a ordenança que deu quem revelou o homem o único condicional. [...] Comunismo superior. O único comunismo” 21 O comunismo que Estamira diz não se trata de um comunismo partidário, mas de um comunismo da ordem comum da natureza, onde são estabelecidas alianças entre indivíduos autônomos, livres do ressentimento e da má consciência. Esses indivíduos autônomos não vivem por dinheiro, mas fazem dinheiro, levando-os a dispensarem o poder. Estamira produz dinheiro em pleno lixão do Jardim Gramacho: “Eu não vivo por dinheiro, eu faço dinheiro. [...] Eu não vivo pra isso, por isso. Eu é que faço” 22 Ela construiu para si um território onde consegue sustentar-se sem dever nada a nenhum poder. Garante o seu sustento por saber aproveitar os descuidos produzidos pelos espertos ao contrário, que são os que vivem por dinheiro.
6. O HOMEM VIROU LIXO
“O trocadilo fez duma tal maneira que, quanto menos as pessoas têm, mais eles menosprezam, mais eles jogam fora.” 23 O trocadilo conseguiu tornar a humanidade nociva para si própria. Quanto menos as pessoas vivem de modo alegre, afirmativo, criativo, mais elas se aproximam de um vazio existencial absoluto, artificializando tudo que existe e, por isso, apenas utilizam as coisas e as jogam fora, sem reaproveitá-las para outros fins.
O trabalho humano nas sociedades capitalistas transformou o próprio trabalhador em mais um objeto de uso que, ao ser gasto, não é mais aproveitado. Existe um “lixão” humano que encontramos na própria sociedade. Os bolsões de miséria das cidades são detritos acumulados que foram produzidos por um sistema econômico que não os deseja mais. Não há mais a atividade da cultura ou da produção de indivíduos autônomos – nem sabemos mais o que é isso. Há apenas a reprodução de escravos em grande escala que, quando não mais interessam às quadrilhas, são jogados rapidamente às latrinas das cidades. O próprio homem deu a si mesmo um valor de nada – e não é isso o niilismo? Não apenas ele, mas as coisas do mundo passam a ter um uso efêmero, nada dá conta de uma suposta falta no seu desejo. E na medida em que ele menospreza cada vez mais a si mesmo, menospreza, ao mesmo tempo, o seu meio social e ambiental. A pintura mórbida que esse tipo lamuriento faz de si e do mundo é um sintoma de que esse animal está doente, pois há muito tempo não sabe mais o que é viver. Portanto, o que o indivíduo impotente faz com o mundo já é um efeito do que ele faz com a sua própria vida. Esta é a razão que nos leva a entender que, enquanto os valores forem produzidos por um modo de vida de espertos ao contrário, as mais urgentes questões ambientais e sociais não serão, de fato, modificadas.
7. A TERRA É INDEFESA
“A terra suja, maldita... ela cagou nos homens todinho, sujou os homens. Ridicularizou os homens, ‘trocalizou’ a ordenança, entendeu? Só acontece que ela ficou desmascarada e inválida. Ela podendo ser uma das melhores superior, útil, aí cagou nos homens, peidou nos homens, entendeu?” 24 A terra tornou-se suja e a ordem das coisas foi invertida. Os homens foram relegados ao baixo nível. Mas o que é essa terra que se tornou maldita e que sujou os homens? Ela é um produto da própria maneira do homem relacionar-se com a vida: o homem niilista sujou a sua própria terra, uma terra que passou a ter um valor de nada, “desmascarada e inválida”. A consequência disso é que os homens tornaram-se piores do que os “quadrúpulos” porque a terra dos “quadrúpulos” não se tornou suja. O homem virou, então, um trocadilo. Triste retrato que nos mostra que o homem é a “decepção de todos os espaços”: “Os homens tá pior do que os quadrúpulos. É a decepção de todos os espaços. A decepção de quem revelou o homem como único condicional.” 25
Primeiramente, a revelação de Estamira poderia ter como alvo a terra que se tornou suja, como se ela fosse a causa da degradação humana. De fato, a terra, já imunda, não para de sujar os homens. Tal argumento justificaria a resignação das pessoas e nada poderia ser feito para mudar essa situação, pois, afinal, todos nós seríamos apenas “vítimas” de uma terra suja, ou seja, a vida seria essencialmente “má”... Mas o real problema não está na terra suja, e sim no que a fez ficar assim. É provável que, em certa época da sua vida, Estamira nutrisse um ressentimento contra a terra suja, “ficando de mal” com ela. Mas depois Estamira compreende que a terra é indefesa. A terra lhe provou o contrário: ela não é culpada de nada, ela é apenas o resultado daquilo que os homens fizeram com ela: “A terra disse... ela falava, ela... agora que já tá morta. Ela disse que então ela não seria testemunha de nada. Olha o que que aconteceu com ela. Eu fiquei de mal com ela uma porção de tempo, e falei pra ela que até que ela provasse o contrário. Ela me provou o contrário, a terra. Ela me provou o contrário porque ela é indefesa. A terra é indefesa” 26 Como o homem não está separado do seu meio social e ambiental, o ciclo do envenenamento da terra e do homem partiu do sentimento de impotência humana diante da vida para o movimento de espoliação da terra, e esta, por sua vez, passou a tornar o homem cada vez mais miserável, já que este depende dela. A terra não é “testemunha de nada” porque ela não passa incólume diante da perversidade das quadrilhas armadas pelos trocadilos. Estamira abandona a acusação à terra, livra-se de um ressentimento contra a vida e entende que, de fato, o seu combate é contra o trocadilo, o causador de toda a reprodução da imundície. O trocadilo, quando ainda não era o alvo de Estamira, aproveitava-se disso porque “achava que ninguém estava vendo”: “O trocadilo, hipócrita, safado, mentiroso! Está achando que ninguém tava vendo, ou então tava gostando. Pra isso e por isso estou aqui e ali e lá, para sempre, sem fim. Absoluto! Não estou brincando.” 27
Pelo fato de possuir a visão do agente causador da degradação da terra, Estamira tem todo o direito de considerar as outras pessoas como “comuns”. O que a torna diferente dos “comuns” é que estes estão cegos, com o “gravador sanguíneo” danificado: “Vou explicar pra vocês tudinho agora, pro mundo inteiro. É... cegaram o cérebro, o gravador sanguíneo de vocês. E o meu eles não conseguiram porque eu tô formato gente, carne, sangue, formato homem par, eles não conseguiram. A bronca deles é essa, do trocadilo, do trocadilo! 28 Os espertos ao contrário são “comuns”, estabeleceu-se um nivelamento por baixo, onde todos são muito parecidos, onde lutam desesperadamente pelos mesmos bens. Estamira apenas assemelha-se aos “comuns” pelo formato, mas essa semelhança dissipa-se quando, mesmo no formato da carne e do sangue, ela consegue explicar, para o mundo inteiro, o que fez os homens tornarem-se “comuns”, e isso provoca o ódio do trocadilo. Ora, quem é que escapa à reprodução dos “comuns” estabelecida pelo trocadilo? Somente quem cria, quem doa, quem é feliz, quem não precisa do poder: encontramos tudo isto em Estamira.
8. O COMANDO É IMANENTE
A revelação nos mostra que, ao denunciar o tipo de vida que tornou o homem um ser “comum”, também possui uma grande força para nos dizer que a ordem na terra pode ser restabelecida. O homem pode fazer da terra uma das “melhores superiores”. Mas, para que isto seja efetuado, é necessário que o homem encontre um novo modo de relacionar-se com a vida, livrando-se das superstições e aliando-se à própria produção autônoma da natureza.
Ciente da sua lucidez, Estamira vive a experiência extrema do abstrato, onde ela é a própria “beira do mundo”: “A criação toda é abstrata. Os espaços inteiros é abstrato. A água é abstrato. O fogo é abstrato. Tudo é abstrato. Estamira também é abstrato.” 29 “E antes de eu nascer eu já sabia disso tudo! Antes de eu estar com carne e sangue, é claro, se eu sou a beira do mundo! Eu sou Estamira. Eu sou a beira, eu tô lá, eu tô cá, eu tô em tudo quanto é lugar! E todos dependem de mim, todos dependem de Estamira! Todos!” 30. São as transformações intensas que alimentam os delírios e as alucinações, precedendo os nomes. Os nomes não designam pessoas, mas intensidades. Estamira, mediante a singularidade da sua experiência intensiva, é o nome de uma intensidade. Se ela vive a experiência do abstrato e o abstrato é a fonte de toda criação (e isto não quer dizer que a fonte contenha, previamente, as formas de tudo aquilo que passa à existência), ela pode dizer plenamente que está em todo lugar: “Eu, Estamira, sou a visão de cada um. Ninguém pode viver sem mim. Ninguém pode viver sem Estamira.” 31 Sem dúvida, não podemos viver sem ela. Mas quem é “ela”? Não é a “pessoa” Estamira, que come, dorme, respira, mas é a irreversibilidade de um processo que permite que ela passe pela experiência da destruição de uma identidade fixa. Há uma experiência inconsciente da morte. De modo que até o homem “comum” – desde que afirme em si mesmo a destruição do que pode ser destruído – pode passar por uma experiência intensa que aniquila completamente uma identidade (deixando de ser um “comum”). Uma experiência assim permite que o homem sinta que há um comando próprio da natureza do qual é impossível escapar... A crença no sujeito, no outro mundo, na imortalidade da alma e outras superstições são inevitavelmente expulsas da vida do indivíduo. Estamira também foi, um dia, uma crente...
Na natureza, há uma realidade virtual que faz com que tudo que esteja na existência não se limite às condições de um estado atual vivido: há um virtual da água, do fogo, e da própria Estamira. Do contrário, a natureza não seria causa de si mesma e, nesse sentido, as interpretações religiosas de um Deus transcendente, causador e ordenador dos acontecimentos do mundo poderiam ser validadas. Mas isto é um absurdo total, pois não há nada que falte à produção de realidade. A natureza possui uma ordem própria, um encadeamento de causas e efeitos que é absolutamente imanente. A experiência inconsciente da morte é, para o homem ativo, a experiência de um renascimento que gera um novo modo de sentir e de pensar. Portanto, o abstrato não está em um suposto outro mundo: o abstrato é imanente. Há um comando imanente à natureza que a nossa carne não pode suportar: “Sabe o que significa a palavra cometa? Comandante. Comandante natural. [...] O cometa é grande. É por isso que eu passo mal, a carcaça, a carne. Porque ele é muito grande. Ele não é do tamanho que vocês vê. Daqui, ele não é lá no alto espaço, não. Lá no alto espaço é o reflexo ele é aqui embaixo!” 32
“E tem o sentimento. [...] O que fica pegando, acolhendo, gravando é o sentimento.” 33 O trocadilo está com o “gravador” danificado. Ele não sabe mais o que é sentir, não aprende mais com as “ocorrências”, não aprende mais com o que é gravado – ou registrado – nele. Esta é a razão que nos leva a entender que o problema não está no registro, mas no uso que se faz do que é registrado. Há um uso moral do registro que produz ilusões terríveis como o sujeito, o livre-arbítrio, as raças, as nacionalidades, a divisão dos sexos e outras dicotomias, o que faz com que as coisas do mundo sejam captadas de maneira fixa. É isso que torna o homem cego, impedindo-o de apreender os acontecimentos do mundo em devir, sem origem e finalidade.
Somente o trocadilo tem o interesse de fixar as coisas do mundo para estabelecer um poder sobre a natureza (e talvez seja possível fazer um uso da noção de “controle remoto artificial” neste sentido). Desta forma, o trocadilo imagina que pode separar-se do processo de destruição de uma identidade fixa – uma ilusão que o fez pagar um preço alto: a transformação em um cadáver ambulante... Tem comida farta, tem sua residência, tem sua função social, mas há muito tempo está morto. O poder do seu contágio fez com que a humanidade se tornasse um grande conjunto de seres artificiais. Então, quando surge um ser vivo real (como Estamira), no meio de tanta artificialidade, é inevitável que a força do seu afeto abale as estruturas de um mundo falso, pois não há poder que detenha um desejo vivo.
9. O FOGO COMO SOLUÇÃO
A destruição da humanidade é a destruição de uma humanidade que se tornou um Deus artificial; é a destruição de uma forma humana racional, detentora de um suposto conhecimento “neutro”. Não temos dúvida de que o trocadilo será expulso da terra com os seus valores transcendentes à vida. A humanidade está cada vez mais suja, cada vez mais ridicularizada. É inegável que há um processo de autodestruição da humanidade. Porém, na esteira de Nietzsche, entendemos que esse processo de autodestruição ainda se passa de modo demasiado passivo. Estamira não suporta essa autodestruição passiva e invoca um tipo de destruição radical, que é completamente acelerada através do fogo: “A solução é... fogo. A única solução é o fogo. Queimar tudo os espaço, os seres, e pôr outros seres nos espaços. [...] A minha carne, o sangue, é indefesa, como a terra. Mas eu, a minha áurea não é indefesa, não. Se queimar os espaço todinho – e eu tô no meio –, pode queimar. Eu tô no meio invisível. [...] Se for pra o bem, se for pra verdade, pra o bem, pela lucidez de todos os seres, pra mim pode ser agora, nesse segundo. E eu agradeço ainda.” 34 É preciso que seja destruída, completamente queimada, essa forma humana absolutamente doente, que é a do trocadilo. Não queremos fazer nenhuma concessão a esse tipo de vida, assim como Estamira não a fez (“Já me bateram com pau pra mim aceitar Deus. Mas esse Deus desse jeito, esse Deus deles, [...] com esse Deus eu não aceito! Nem picadinha a carne, nem a minha carne picadinha de faca, de facão, de qualquer coisa, eu não aceito, não adianta.”35). E não queremos ser confundidos como se quiséssemos defender uma “caça às bruxas”. É justamente o contrário. A destruição que aqui invocamos não se refere aos indivíduos, mas à forma resignada, escravizada, ridicularizada, que fez do homem um esperto ao contrário – e isto é vergonhoso. Sabemos que o homem não está limitado a esse modelo de vida medonho. Ele pode ir muito além disso ao produzir riquezas que nem sequer podemos imaginar. O homem é o “único condicional” – sem Deus, sem uma forma humana, ele é o único que pode redimir-se: não há nada fora do homem que possa fazer isso por ele. Cabe somente a ele criar as condições para a sua superação, sem nenhuma superstição.
NOTAS
Fotos: Marcos Prado
Utilizamos para a produção deste artigo o DVD “Estamira”, da Europa Filmes, edição de colecionador (DVD duplo). Os trechos utilizados foram extraídos do longa metragem “Estamira” (E) e do média metragem “Estamira para todos e para ninguém” (EPTPN).
1 EPTPN, 54m38s
2 E, 5m54s
3 E, 26m48s
4 EPTPN, 54m18s
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