Introdução à filosofia de Nietzsche
1ª edição, maio de 2010
128 páginas
Projeto gráfico de Wanduir Durant
Edição impressa esgotada.
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Para o niilista passivo, o “sem sentido” da existência é ainda um estado de sofrimento, de resignação, de brandura. Não há mais culpados, ele apenas diz “sofro”... Mas quando ele experimenta, por meio do “sem sentido”, a emoção necessária que o leva a criar novos valores (o seu “Eu quero!”), opera a transmutação do niilismo. O eterno retorno aparece, então, como o pensamento seletivo, que somente retorna para quem compreende que o eterno retorno do “sem sentido” é a abertura para a criação de sentido, expulsando desse indivíduo qualquer tentativa de atribuir alguma finalidade à vida.
Atingidos por um pensamento que é, segundo Nietzsche, “a mais elevada forma de afirmação que se pode em absoluto alcançar”, podemos dizer para nós mesmos: “Que presente maravilhoso que a vida nos deu: ela não tem sentido! Pois se ela tivesse um, não haveria nada para se criar no mundo. Estar vivo, aí sim, seria um terrível fardo. Pois bem: tratamos de ser honestos com ela! Mãos à obra!”. O sentido da morte de Deus é, finalmente, compreendido por nós: a vida tal como é, retornando sem finalidade alguma, mas como criação contínua de maneiras de viver que a intensificam. A vida é experimentada por nós como vontade de potência que retorna, eternamente, além de si mesma, isto é, diferente de si mesma...
Como o mundo é vontade de potência, sem origem e finalidade, o sentido e o valor criados por uma vida singular permitem que ela se conecte ao absoluto, ao eterno retorno da vontade de potência. É importante pensarmos sobre isso: o eterno retorno do “sem sentido” da existência coage a vida singular a criar sentido e valor. Ou ela cria ou, então, perece inevitavelmente – não há outro caminho. Se o artista vivesse num mundo acabado, sua existência seria inútil, pois não teria o que criar. A vida singular que se supera demonstra que a multiplicidade de forças que coexistem nela se expressa de muitas maneiras, rompendo com as noções de “ser”, “identidade” ou “eu”. O “Eu quero” da vida singular combate, de modo permanente, o “Tu deves”. Contra qualquer censura moral, a vida singular continua adiante naquilo que deseja para elevar o que já quer ao máximo que pode. Esse seu bem, por expressar a sua singularidade de sentir, de conhecer, de avaliar, de viver, é sempre algo que não se confunde com o “bem” comum da moral. Portanto, sua virtude é ética e não moral.
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